terça-feira, abril 12, 2011

Tenho um aluno esquizofrênico e agora? Reflexões sobre a chacina de Realengo.

Diante da perplexidade da atitude assassina de Wellington Menezes, atirador que invadiu a Escola Municipal Tasso da Silveira no Rio de Janeiro Professores, pais, alunos e demais envolvidos na rotina de uma escola devem estar se perguntando o que fazer agora para que isso não volte a acontecer. 
A partir dos fatos levantados pela polícia e divulgados pela mídia apenas duas hipoteses para traçar o perfil psicológico do assassino são ventiladas: Psicopata ou Esquizofrênico. 

O termo “psicopata” caiu na boca do povo, embora na maioria das vezes seja usado de forma equivocada. Na verdade, poucos transtornos são tão incompreendidos quanto a personalidade psicopática.

Descrita pela primeira vez em 1941 pelo psiquiatra americano Hervey M. Cleckley, do Medical College da Geórgia, a psicopatia consiste num conjunto de comportamentos e traços de personalidade específicos. Encantadoras à primeira vista, essas pessoas geralmente causam boa impressão e são tidas como “normais” pelos que as conhecem superficialmente.

Os psicopatas são diferentes do esquizofrenicos principalmente nos sintomas apresentados.

Os primeiros costumam ser egocêntricos, desonestos e indignos de confiança. Com freqüência adotam comportamentos irresponsáveis sem razão aparente, exceto pelo fato de se divertirem com o sofrimento alheio. Os psicopatas não sentem culpa. Nos relacionamentos amorosos são insensíveis e detestam compromisso. Sempre têm desculpas para seus descuidos, em geral culpando outras pessoas. Raramente aprendem com seus erros ou conseguem frear impulsos.

http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/o_que_e_um_psicopata_.html  

A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica endógena que se caracteriza pela perda do contato com a realidade. A pessoa pode ficar fechada em si mesma, com o olhar perdido, indiferente a tudo o que se passa ao redor ou, os exemplos mais clássicos, ter alucinações e delírios. Ela ouve vozes que ninguém mais escuta e imagina estar sendo vítima de um complô diabólico tramado com o firme propósito de destruí-la. Não há argumento nem bom senso que a convença do contrário. 

Segundo os especialistas que têm comentado a chacina, o perfil de Welington apresenta traços típicos de um esquizofrênico.


Um irmão adotivo de Wellington, que não quis se identificar por temer retaliações, disse que ele era portador de esquizofrenia severa, diagnosticada quando ainda criança e que a mãe biológica também tinha problemas mentais.

Segundo o irmão, Wellington sempre foi desajeitado e extremamente arredio, tinha muitas manias, e sofreu muito na adolescência com a rejeição das meninas por causa do jeito esquisito.

“É verdade: ele era muito estranho, desde pequeno tinha distúrbios mentais e até onde posso lembrar sofria dos colegas isso que chamam de bullying”, descreveu o irmão adotivo A., de 44 anos, que vive numa cidade no entorno de Brasília.




Ao analisar a carta deixada por Wellington, o psicólogo Alexandre Passos, que atua há 20 anos no tratamento de doentes mentais na rede pública do Rio, concluiu que o texto tem conteúdo delirante, característico de uma mente psicótica, na qual é comum a pessoa incorporar elementos culturais de cada época, como as referências religiosas.


Psiquiatra analisa Wellington

http://diariodopara.diarioonline.com.br/N-130662-ATIRADOR+DE+ESCOLA+NO+RIO+ERA+ESQUIZOFRENICO.html 

Em entrevista ao médico Drauzio Varela, Wagner Gattaz que é médico psiquiatra, professor de psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, diz:
 


Drauzio Quais são seus principais sintomas?
Wagner Gattaz - Grosso modo, há dois tipos de sintomas: os produtivos e os negativos. Os sintomas produtivos são, basicamente, os delírios e as alucinações. O delírio se caracteriza por uma visão distorcida da realidade. O mais comum, na esquizofrenia, é o delírio persecutório. O indivíduo acredita que está sendo perseguido e observado por pessoas que tramam alguma coisa contra ele. Imagina, por exemplo, que instalaram câmeras de vídeo em sua casa para descobrirem o que faz a fim de prejudicá-lo.
As alucinações caracterizam-se por uma percepção que ocorre independentemente de um estímulo externo. Por exemplo: o doente escuta vozes, em geral, as vozes dos perseguidores, que dão ordens e comentam o que ele faz. São vozes imperativas que podem levá-lo ao suicídio, mandando que pule de um prédio ou de uma ponte.
Delírio e alucinações são sintomas produtivos que respondem mais rapidamente ao tratamento.
No outro extremo, estão os sintomas negativos da doença, mais resistentes ao tratamento, e que se caracterizam por diminuição dos impulsos e da vontade e por achatamento afetivo. Há a perda da capacidade de entrar em ressonância com o ambiente, de sentir alegria ou tristeza condizentes com a situação externa

DrauzioComo transcorre o dia-a-dia de um paciente com sintomas negativos?
Wagner Gattaz – Na verdade, 80% das esquizofrenias começam com os sintomas negativos. Delírio e alucinação chamam mais a atenção. Já os sintomas negativos ocorrem mais no íntimo das pessoas e causam menos impacto nos outros. É o caso do indivíduo que, certo dia, não vai trabalhar, não avisa ninguém e passa o dia todo deitado, tomando café e fumando. A família percebe o olhar distante, como se estivesse em outro mundo. Ele não se importa com o que acontece ao redor, não cuida da higiene pessoal nem se alimenta direito. Geralmente, esses sintomas marcam o começo da doença, a fase chamada trema psicótico, marcada por tensão e ansiedade muito grande. A pessoa sente que algo está acontecendo, mas não sabe dizer o que é.
DrauzioA família percebe que ele está diferente e não se relaciona com os outros como fazia antes. O paciente nota essas mudanças?
Wagner Gattaz – Ele percebe que algo está acontecendo a seu redor, mas acha que são coisas que os outros estão armando contra ele. Isso é característico da esquizofrenia. O paciente se considera uma vítima das circunstâncias externas. Na verdade, nesse momento, não tem a consciência crítica de que está adoecendo.


DrauzioNo passado, o tratamento da esquizofrenia era precário. Hoje, houve um grande avanço farmacológico nessa área. Qual a melhor estratégia para tratar uma pessoa com essa doença?
Wagner Gattaz – Realmente, o progresso foi muito grande. Na verdade, começou no início dos anos 1950 com a introdução do primeiro medicamento antipsicótico, o que já provocou um esvaziamento dos hospitais psiquiátricos que eram usados como asilos para esses pacientes no passado. De lá para cá, esses medicamentos evoluíram muito. Hoje existem medicamentos com poucos efeitos colaterais que atuam nos sintomas negativos da doença.
Essa é a questão-chave. Como foi dito, o paciente com psicose esquizofrênica nem sempre tem consciência crítica de seu estado mórbido. Por que iria, então, tomar remédios para o resto da vida, ainda mais se têm efeitos adversos? Por isso, a principal causa de recaída da doença era o abandono do tratamento. Com o advento de novos medicamentos que são mais bem tolerados, aumentou a aderência do paciente ao tratamento e sua continuidade mesmo depois que desaparecem os sintomas. Além disso, como qualquer doença na medicina, quanto mais precocemente começar o tratamento, melhor. Não só porque o início precoce impede que a doença provoque danos mais sensíveis na personalidade do paciente, mas também evita que a pessoa abandone sua rotina de vida, seus estudos, sua atividade profissional, preservando a estrutura socioeconômica que melhora muito o prognóstico. Existem estudos denominados “Intervenção Precoce” que defendem o início do tratamento antes da manifestação completa da doença. Um deles está em andamento no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas. Quando se detecta alto risco para a psicose, e existem critérios para determinar isso, prescreve-se o tratamento precoce para evitar o desenvolvimento completo da doença.
DrauzioQual é a eficácia do tratamento?
W.Gattaz – O tratamento tem boa eficácia para fazer regredir os sintomas negativos. Em muitos casos de adultos jovens e adolescentes, é possível conseguir que eles não interrompam suas atividades e mantenham boa reintegração social, o que evita muitos danos causados pela doença.
DrauzioEsses medicamentos ainda produzem alguns efeitos colaterais. Quais são os mais freqüentes?
W.Gattaz – A primeira geração de medicamentos, que continuam sendo usados inclusive porque são mais baratos, atua bloqueando o sistema cerebral da dopamina. Esse bloqueio simula os sintomas da doença de Parkinson, uma patologia causada exatamente pela falta de dopamina no cérebro, e ocorrem problemas motores, tremores, torcicolos violentos e rigidez muscular. Esses efeitos colaterais mais graves da primeira geração foram amplamente abolidos com os medicamentos introduzidos na última década. São mais caros, embora não custem muito se comparados com outros métodos terapêuticos na medicina. Alguns deles provocam ganho de peso, que pode ser controlado com a troca do remédio.
DrauzioA administração desses medicamentos é cômoda para os pacientes?
Wagner Gattaz – A administração é cômoda, uma tomada por dia. Atualmente, estão sendo introduzidos antipsicóticos injetáveis, isto é, uma injeção que o paciente toma a cada duas ou quatro semanas. Isso facilita muito o tratamento e sua manutenção



Leia a entrevista completa



Como Psicóloga da Seduc que atua na linha de frente das escolas, seja na multiplicação de informações e prevenção como também na ação interventiva em caso de alguma ocorrência, tenho contato com alguns casos de esquizofrenia.

 Hoje atendi uma aluna com sintomas de esquizofrenia.



Por motivos éticos não citarei o nome, óbvio. Mas A.N.S tem 17 anos, veio até mim a pedido da Psiquiatra do Capes-Centro de Atenção PsicoSocial/Sespa.

Para entedermos o caso, cito o histórico que desencadeou o surto:

Durante o carnaval deste ano, a adolescente participou de um bloco de carnaval de rua com amigos, e transou com seu então namorado na casa de um amigo nesta noite. Após isso, alguns colegas que estavam na mesma casa passaram a difamá-la para outros colegas, inclusive ameaçando que tinham gravado um vídeo e o colocariam na internet. A partir disso, A.N.S, ficou nervosa, sentiu-se ameaçada e passou 2 dias chorando compulsivamente, no segundo dia passou a ter delírios de que estes colegas queriam matá-la, começou a falar coisas desconexas, apresentou surtos de pânico que não deixavam que sua mãe e irmã saíssem de casa. Ao final do 2º dia, sua mãe a levou ao Hospital das Clínicas Gaspar Viana, foi atendida pelo ambulatório psiquiátrico e constatado que se tratava de um surto, foi medicada com Respiridon e encaminhada ao CAPES-Marambaia. Lá foi atendida pela psiquiatra mais ou menos três vezes até hoje e recebeu consulta de uma Psicóloga da Unidade Básica de Saúde. Passados mais de um mês, esta adolescente chega até mim, através da Orientadora Educacional da escola estadual que pertence para avaliação e acompanhamento de poderia frequentar as aulas, já que a psiquiatra aconselhou que não voltasse para a escola pois temia que a mesma vivenciasse novamente a presença das pessoas que desecadearam o surto, mas decidiu que eu avaliaria a situação e daria um parecer sobre a volta da adolescente a escola.

A.N.S. está tranquila, saiu do surto devido a medicação e tem vontade de voltar a estudar, sendo considerada inclusive uma ótima aluna.

Em rápida conversa com a mãe, já que o foco da Psicologia Escolar é o aprendizado do aluno e suas relações com a escola, tive somente um pouco de informações sobre a vida da aluna, mas soube que sua infância foi difícil devido a presença de um pai alcóolatra e agressivo, mas a mãe pareceu ser uma mulher dedicada e preocupada sinceramente em ajudar. A adolescente frequenta um grupo de jovens da Igreja Católica e lá busca conforto espiritual.


Diante dos fatos apresentados, cabe refletir se essa adolescente pode ou não frequentar uma escola sem trazer riscos aos outros alunos e professores.


Entendendo a esquizofrenia como uma cisão com a realidade concreta e entrada num mundo delirante que amenize a dor psíquica que esta realidade apresenta, analiso que o fato do surto ter sido proveniente de problemas com colegas, nem todos da mesma escola, mas com alguns integrantes dela, é possível que a presença dessas pessoas volte a trazer o sofrimento psíquico desencadeante.

Por outro lado, isso pode e deve ser resolvido através de terapia, na minha opinião e discordando do Psiquiatra Wagner Gattaz, sugiro uma psicoterapia de base psicodinâmica, que consiga desatar os nós da infância e dessa intricada relação com os pais.

Como a dor psiquica dá o start para o surto, trabalhar esta dor, fortalecer o ego e estimular o autoconhecimento irão favorecer que esta adolescente possa lidar melhor com suas frustações atuais e futuras e possa antecipar seus picos de emoções, tendo assim uma vida adulta, profissional, afetiva e familiar estabelecida através de relações seguras, onde ela mesma saiba quais seus limites emocionais.



Dentro da escola a preocupação é com o bulling ou o descaso dos professores.




Por isso as orientações a partir de agora são:

Reunião com os professores dela, para explicar o que está acontecendo;

Sigilo por enquanto aos demais alunos, até que seja o momento de inserir esta discussão

Acompanhamento diário da aluna, dos professores, do Serviço pedagogico e dos professores para detectar alguma mudança de humor e atitudes.

Continuação do Acompanhamento no Capes com Psiquiatra e Psicólogos.


Os momentos do surto são como uma ferida aberta, o antipsicotico é feito um paracetamol, passa a dor, mas se o efeito passar, a dor volta. Só a psicoterapia e o enfretamento dos seus maiores medos e demônios vai fortalecer a adolescente contra a esquizofrenia e ela pode ter uma vida adulta na perfeita normalidade sem necessitar tomar remédio eternamente, sem precisar da pena ou da dúvida de ninguém. Que assim seja!!! Torço por isso.


9 comentários:

  1. Adorei o artigo, bem esclarecedor amiga! Pra mim, como professora, foi bastante útil...bjos

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  2. Sara, os professores são os olhos mais importantes para antecipar os sintomas junto com a família, alterações de humor são os primeiros deles, se acompanhados de alucinações ou delirios persecutórios são casos de emergencia psiquiátrica.
    Beijo amiga.

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  3. Atualmente minha sobrinha vem passando por uma situação semelhante em parte com essa história, digo em parte porque o problemas foi causado em uma escola e mesmo havendo mudança para outra escola a forma netodologica e avaliativa tem sido igual aos demais alunos. O maior problema é que os colegas e professores peaticam i bully, fazem pouco caso e zombam do relatório médico e a forma de metodologia e avaliação escolar e nota por prova escrita feita. Preciso de ajuda e quero saber a quem devo recorrer?

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  4. Atualmente minha sobrinha vem passando por uma situação semelhante em parte com essa história, digo em parte porque o problemas foi causado em uma escola e mesmo havendo mudança para outra escola a forma netodologica e avaliativa tem sido igual aos demais alunos. O maior problema é que os colegas e professores peaticam i bully, fazem pouco caso e zombam do relatório médico e a forma de metodologia e avaliação escolar e nota por prova escrita feita. Preciso de ajuda e quero saber a quem devo recorrer?

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  5. Acabei de receber um aluno no terceiro ano do ensino fundamental, ele é bastante agressivo todos os dias, gostaria de sugestões para a sala de aula!

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  6. E quando o aluno não "apresenta sintomas" e a escola é informada? Como devemos proceder? A capacitação dos professores e comunidade escolar não deveria ser o primeiro passo para a inclusão desses alunos?

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